domingo, 26 de dezembro de 2010

Hicsos


Eles chegaram de repente, pilotando carros puxados por fogosos cavalos. Sabe-se que eram semitas e que vieram da Síria-Palestina, talvez empurrados pelas incursões de iranianos e anatolianos, à altura de 1.800 aC.  Transpondo a fronteira do Egito, invadiram o delta do Nilo, onde receberam  acolhida e reforço dos semitas já estabelecidos na terra de Goshen (citada na Bíblia como o lugar onde a família de Jacob se teria instalado, sob a proteção de José).
Máneton, que os chamou  -  não sem desdém -  de "Hicsos" (um termo cujo significado mais aceito é o de "príncipes dos pastores"), conta como aconteceu:.
" Tivemos uim rei chamado Toutimaios (...). Sucedeu que, no seu tempo, vieram do Oriente uns homens de raça ignóbil, que tiveram a ousadia de invadir nosso país e facilmente o subjugaram pela força."

Suprema vergonha!  Os invasores submeteram o Egito sem travar uma batalha sequer.
É bem possível que a rápida consumação da conquista se tenha devido não apenas à traqueza dos faraós da XIII Dinastia, mas também aos carros usados pelos conquistadores, que os egípcios desconheciam como arma de guerra.

De há muito, pastores e pequenos agricultores semitas deixavam seus lares, à época das secas, e buscavam refúgio no delta do Nilo. E não eram poucos os que acabavam ficando por lá, definitivamente. Portanto, a presença de semitas na região do delta constituia um processo pacífico de ocupação estrangeira, autorizado pelo governo egípcio, que usufruia desse imigrantes humildes como mão de obra barata e abundante, em obras públicas. Só que agora a situação era outra. Os que ingressaram no país, nos tempos do "rei Toutimaios", nada tinham de pacíficos. Ao contrário, não será absurdo associá-los aos temíveis "rutenu" e "aamu", citados em fontes egípcias nos tempos de Senusert I.

É ainda Máneton quem diz que, apesar de não encontrarem resistência, os "pastores" queimaram cidades, derrubaram templos de deuses egípcios e maltrataram os habitantes do país, matando alguns e escravizando outros.

O domínio dos Hicsos parece ter durado cerca de 500 anos, porém esse domínio quase sempre não se projetava muito além da região do Delta, tendo po eixo a cidade de Avaris, no nomo saíta. No sul do país, após um tempo de anarquia, organizou-se um governo nacional em Tebas, que se tornou o coração da resistência egípcia. Foi dessa cidade que partiu a força militar que acabaria por expulsar os odiados invasores semitas. Um fragmento do Papiro Sallier, redigido no tempo da XIX Dinastia, descreve como começou a luta que poria fim ao domínio dos Hiksos, 3 séculos depois.

Expulsos do Egito, alguns grupos semitas internaram-se na península do Sinai, onde levaram uma vida de beduínos por muitos anos, antes de retornarem à Palestina.  Entre eles, estavam os que viriam a ser conhecidos como "israelitas".
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alvaro Rodrigues (dez/2010)

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

A famosa foto de Che Guevara


A foto de Ernesto "Che" Guevara com sua boina negra  -  que o  Instituto de Arte de Maryland (EUA) considerou "a mais famosa fotografia do maior ícone gráfico do mundo do século XX'  -,   foi tirada por Alexander Korda, em 04 de maio de 1960, quando Guevara tinha 31 anos. 
Àquela data, um cargueiro belga, procedente de Antuérpia, que trazia um carregamento de armas de pequeno porte para Cuba - desafiando o embargo imposto  pelo governo dos Estados Unidos -, explodiu no porto de Havana, vítima de sabotágem. Uma centena de pessoas morreu e 300 ficaram feridas.  Avisado do ocorrido, Che correu para o porto. Ele tinha acabado de chegar lá quando foi  fotografado por Korda.



domingo, 12 de dezembro de 2010

Amarna



Tell el-Amarna é o nome moderno de Akhetaton, a cidade construída pelo faraó Akhenaton, por volta do ano de 1350 aC, que se tornou a residência real e o centro da revolução religiosa que o rei estabeleceu no país. Atualmente, ela é parte de um sítio desolado e desértico, à margem leste Nilo, na província de el-Minia, a meio caminho entre Cairo e Luxor (nos tempos antigos, ficava entre Menfis e Tebas).
  
É uma das poucas cidades do Egito que foi possível escavar de modo significativo, uma vez que, tendo sido abandonada (e amaldiçoada) menosde 20 anos após sua fundação, os antigos egípcios jamais voltaram a ocupá-la, circunstância que viria a preservar seu traçado e sua arquitetura.
  
À exceção do lado virado para o rio, a planície de Tell el-Amarna é inteiramente cercada por uma cadeia rochosa, interrompida, de vez em quando, por uadis. A parte mais importante da cidade compreendia o Per-Aton (conhecido como o Grande Templo de Aton) e o edifício oficial do estado (o Grande Palácio). Do outro lado da rua ficava a residência particular do faraó, ligada ao Grande Palácio por uma ponte. Perto dali, erguia-se o Arquivo Oficial, em cujas ruínas foi encontrada a correspondência diplomática trocada entre Amenhotep III, Akhenaton e TutAnkhAmon, com os soberanos vassalos da Mesopotâmia, Palestina, Síria e Ásia Menor (as famosas "Tábuas de Tell el-Amarna").
Maquete do que teria sido o Templo de Aton
Os túmulos dos funcionários foram cavados nos rochedos que cercam a planície. Se excluirmos Tebas e Saqqara, Tell el-Amarna é o único local que se pode descrever como uma importante necrópole do Novo Império. Esses túmulos formam dois grandes grupos e obedecem a um plano semelhante ao dos túmulos tebanos da 18a. Dinastia. A decoração era em baixo-relevo.
  
A primeira escavação arqueológica aconteceu em 1892, seguindo-se várias outras até 1936. A segunda guerra mundial interrompeu os trabalhos, que só vieram a ser retomados em 1977, com uma expedição da Egypt Exploration Society.
  
Embora tenha sido fonte de muitas obras de arte, Tell el-Amarna desilude aquele que a visita, pois quase não há edifícios em pé. O saque começou pouco depois da cidade ter sido abandonada, com a remoção de pedras para outros locais de construção.
A réplica de uma coluna marca o local onde,
muitos séculos atrás, um jovem faraó cultuava seu deus.


Annales


O que costuma ser chamado de Escola dos Annales, não é, exatamente, uma escola; melhor seria falar em movimento. Um movimento que ultrapassa as fronteiras do que foi publicado na revista "Annales d’histoire économique et sociale”.

O movimento passou por diversas reformulações, desde os tempos de Marc Bloch Lucian Febvre. Nos anos 60, por exemplo, ele sofreu forte influência dos trabalhos de Fernand Braudel, até chegar na fase atual, chamada de Nova História, quando se destacam as obras de LeGoff e Duby.

Grosso modo, o movimento pretende ser renovador, reivindicando uma história experimental científica (até para torná-la mais "respeitável" nos ambientes acadêmicos), e orientando-se para uma "interdisciplinaridade" com as demais Ciências Sociais, sobremodo no aspecto metodológico.

É sempre bom considerar que grande parte desse impulso "renovador" da História, não nasceu entre os historiadores, mas entre sociólogos, quase todos de formação durkheimiana. Aliás, no início do Século XX, o debate entre historiadores e sociólogos tornou-se intenso e, não raro, conduziu a uma disputa ferrenha, com os sociólogos sustentando a necessidade de um padrão metodológico para todas as Ciências Sociais, inclusive a História.

Nesse contexto, tornou-se emblemático o argumento de Simiand de que qualquer ciência social, para merecer o título de "ciência", teria de aplicar uma metodologia "reconhecidamente científica", ou seja, partir de uma "hipótese", para desenvolver uma "pesquisa". É mais ou menos isso que o pessoal dos "Annales" pretendia, ao falar em "história-problema".

Contrapondo-se ao Marxismo, os Annales entendem que a economia (ou seja, o sistema produtivo) não é o fator dominante na organização e funcionamento da sociedade, porém longe de propor outro fator em seu lugar, sustenta que a tarefa do "cientista social" é explicar o social "complexificando-o" e não simplificando-o.

A concretização dessa proposta confere à História (ou melhor, a todas as Ciências Sociais) uma prolixidade que a torna inteligivel apenas por quem domina seus "códigos", a exemplo do que ocorre em outros ramos do conhecimento científico, literalmente restrito aos "iniciados" do setor.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Sensibilidade social



Desenvolvimento, crescimento econômico, modernização do parque industrial, PIB, Renda per capita, e outros jargões da Economia, incorporaram-se ao "saber" (e ao repetir) de nossa classe média.

Mas como quase tudo em Economia, a verdade varia de acordo com o olhar e os indicadores comportam solertes armadilhas.

Se, por exemplo, um país como o Brasil, apresenta crescimento de 2% do PIB (o índice que mede a riqueza nacional) em determinado ano, isso significa que os brasileiros, de um modo geral, ficaram 2% mais ricos ou menos pobre, certo? 

Errado.

Assim seria se vivêssemos em uma sociedade igualitária ou perto disso. Mas a verdade é que, ao contrário, ostentamos a indigna condição de ser um dos países com maior taxa mundial de desequilíbrio sócio-econômico. Até na obra de um historiador renomado, como o anglo-egípcio, Eric Hobsbawm, o Brasil só é lembrado como "campeão da desigualdade".

Somos uma sociedade de classes, organizada segundo o modelo capitalista. E, como outras sociedades assim estruturadas, temos nossa elite sócio-econômica, que se apropria da fatia majoritária da riqueza produzida por toda a nação. 
Só que temos uma das elites mais vampirescas do planeta, e uma classe média com baixíssimo nível de consciência social.

Desse modo, em nossa amada pátria, ser socialista pode indicar, tão somente, alguém que dispõe de um pouco mais de sensibilidade social do que a maioria dos brasileiros. Alguém que ao ler que o país se desenvolveu, pergunta-se quem se beneficiou com esse desenvolvimento. Alguém que se interessa mais em acompanhar o IDH do que o comportamento do PIB e da Taxa Selic (ainda que seja importante também obervá-lo). Alguém que pode até não postular uma sociedade comunista, mas que considera indigna, desumana, e cruel a convivência da opulência com a miséria.

Há muitos que não têm essa sensibilidade.
Há muitos que a tem mas permanecem de boca fechada e braços cruzados, entendendo que não há como mudar esse cenário vergonhoso.
Há muitos que a tem, mas que a sufocam em troca de 30 moedas.
Há muitos que a tem, mas apenas agradecem a Deus não terem nascido no seio das camadas mais inferiores da pirâmide social.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

As decisões de Hitler




Decisões individuais não determinam o destino de um evento histórico da magnitude de uma Segunda Guerra Mundial, mas certamente influenciam, acelerando ou retardando os processos e seus tempos.

No tocante a Hitler, é comum se ler que ele perdeu a guerra por conta de sua teimosia e por ter ignorado os conselhos de seus generais. Mas não há elementos que corroborem tal conclusão. Certamente ele cometeu erros mas, de um modo geral, sua extraordinária capacidade de avaliar situações e identificar pontos fracos em seus inimigos, o levaram a tomar decisões em sua maioria exitosas para os seus objetivos.

Por exemplo, ele apostou, corretamente, que os franco-britânicos lhe dariam aTchecoslováquia numa bandeja de prata. E assim foi. (Mais tarde, referindo-se aChamberlain e Deladier, ele diria: “São uns vermes. Eu os vi em Munich”).

Também apostou que as potências ocidentais (França e Inglaterra) não arredariam o pé para ajudar a Polônia. Tanto que deixou poucas tropas na fronteira ocidental, que seriam facilmente vencidas se os franceses decidissem atacar. Mas Paris e Londres preferiram ficar quietos, numa postura defensiva, enquanto os panzers alemães trucidavam os poloneses. (Curiosamente, quando aURSS invadiu a Finlândia, os franceses correram a equipar uma força-tarefa para ajudar os finlandeses, que só não partiu porque, antes disso, Helsink capitulou).

A verdade é que o Ocidente não se dispunha a criar sérios embaraços àAlemanha, em seu avanço pela Europa Oriental, rumo à União Soviética. QuandoHitler ignorou, cinicamente, o Acordo de Munich, e em lugar de apenas os Sudetos, apossou-se de toda a Tchecoslováquia, o “apaziguador” primeiro-ministro britânico, Neville Chamberlain, limitou-se a lamentar: “Mr. Hitler não é um cavalheiro!”.

Hitler foi especialmente feliz ao adotar a estratégia de envolver as forças aliadas mediante um avanço pelas Ardenas, que os militares franceses (e não poucos generais alemães) consideravam inviável para manobras com tanques, haja vista sua intensa arborização. Guderian e Von Manstein provaram que era possível . Enquanto o comandante francês, Maurice-Gustave Gamelincorria para o engodo belga, eles engaiolaram os aliados em um grande bolsão e tomaram Paris num piscar de olhos.

Em uma França ideologicamente dividida, onde quase a metade de sua classe dominante preferia juntar-se a Hitler numa cruzada contra a URSS, a “blitzkrieg” funcionou maravilhosamente (o general soviético, Tukhachevsky, já dizia que a “guerra relâmpago” alemã era muito eficaz quando dirigida contra um inimigo que não queria, realmente, lutar).

A decisão de firmar um Tratado de Não-Agressão com a URSS também foi uma manobra genial: apanhou os ocidentais de calças curtas e desarmou Stalin. Com isso, a Wermatch passeou na Polônia, sem recear ser surpreendida. (Constrangedora foi a situação em que ficaram os PCs europeus, obrigados a não mais hostilizar os nazistas. Muitos comunistas quase "piraram" nesse cenário insólito).

Mas houve momentos em que a avaliação de cenário e conseqüente decisões de Hitler não foram adequadas. Declarar guerra aos EUA (após Pearl Harbour) foi, provavelmente, um grande erro. Por que fazê-lo? Por solidariedade ao aliado japonês? Começa que Alemanha e Japão nunca foram, realmente, aliados. Seus interesses eram diferentes e, a longo prazo, conflitantes. Ademais, os japoneses não se mostraram nem um pouco solidários quando os nazistas invadiram a URSS. Preferiram firmar um acordo de não-agressão com os russos, apesar dos rogos deHitler para que atacassem os soviéticos pelo Oriente. Desse modo, Stalin pode deslocar as tropas que guarneciam sua fronteira oriental, para conter o furioso e demolidor avanço alemão, nos primeiros meses da Operação Barbarossa.

Tudo indica que, na decisão de guerrear os EUAHitler deixou-se levar pelo alto comando da Marinha alemã, que queria liberdade para atacar navios norte-americanos no Atlântico. Isso porque, embora oficialmente neutros, os EUAprestavam descarado auxílio (cobrado a peso de ouro) aos combalidos britânicos.

O resultado foi que, se em 1940 a Alemanha dominava quase toda a Europa e tinha contra si apenas uma Inglaterra de joelhos, no final de 1941 ela lutava contra 3 potências industriais: EUA, Inglaterra e URSS. Não havia como ganhar a guerra desse jeito.

A decisão de atacar os russos foi um erro? A médio prazo, ela provou ter sido fatal para o Nazismo. Mas Hitler não tinha escolha. Sem conquistar a URSS, sua estratégia mundial perderia qualquer sentido. Como ele mesmo disse: ""A luta pela hegemonia mundial será decidida pelo domínio do espaço russo. Sem isso, qualquer idéia de política mundial é ridícula, para a Alemanha".

Porque a Segunda Guerra Mundial foi isso: uma grande luta pelo domínio mundial, na qual os principais contendores foram a Alemanha, o Japão e osEstados Unidos.

Quando a guerra acabou, os EUA se haviam tornado os líderes incontestes do mundo capitalista , mas seu domínio mundial foi, por algum tempo, contestado por uma potência não-capitalista: a URSS. A disputa entre as duas super-potências (Guerra Fria) só se encerraria em 1991.
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alvaro rodrigues (novembro/2009)

Hiroshima




  Em 6 de Agosto de 1945, uma bomba atômica carregada de Urânio, batizada de "Little boy" explodiu a 576 m de altura da cidade japonesa de Hiroshima. A bomba foi lançada de um avião B-29, comandado porPaul Warfield Tibbets Jr, um dos melhores pilotos de bombardeiro doEsquadrão 509 que, desde 1943, era treinado nos Estados Unidos para a "missão derradeira". No corpo do avião, ibbets pintou um nome: "Enola Gay", em homenagem à sua mãe. 
Inicialmente, o alvo seria Kyoto, ex-capital e centro religioso do Japão, mas o secretário da Guerra, Henry Stimson, trocou-o por Hiroshima, por ser uma cidade situada entre montanhas, detalhe que amplificaria os efeitos da explosão.
  
Às 02:45h, o Enola Gay decolou da pequena ilha Tinian e, logo depois, levantaram vôo outros dois B-29 que tinham a missão de medir e fotografar a missão. Às 05:45h os aviões se encontraram sobre Iwo Jima, e seguiram para Hiroshima, onde chegaram às 08:15h.

Às 08:15:17h, a bomba foi lançada sobre a cidade.
Um minuto depois da explosão, George Marquardt, que seguia em outro avião, tirou a primeira fotografia da gigantesca bola de fogo que se ergueu da cidade.

No centro da explosão, a temperatura chegou a 4.000ºC, vaporizando em milisegundos milhares de adultos, crianças e animais, fundindo prédios e carros, reduzindo a pó uma cidade de 400 anos. Num raio de 2 quilômetros, tudo ficou destruído. Uma onda de calor intenso, emitia raios térmicos, como a radiação ultravioleta, destruindo tudo em seu caminho, chocando-se contra as montanhas e retornando à cidade.

Cerca de 75.000 pessoas foram instantaneamente mortas
sendo que dos corpos de muitas delas sobrou apenas a silhueta. Após a explosão, chegou "Kuroi Ame", a chuva negra radioativa que desceu sobre as ruínas da cidade, causando um grande número de vítimas nos dias seguintes.


Três dias depois, uma segunda bomba foi lançada sobre Nagazaki.

Em 10 de Agosto de 1945, o dia depois do ataque à Nagasaki, 
Yosuke Yamahata, começou a fotografar a devastação, realizando o registro fotográfico sobre os efeitos de bombas atômicas em seres humanos, pouco tempo após a explosão. Caminhando através da escuridão das ruínas e cadáveres, ele registrou o horror de duas cidades mortas, vítimas de uma das decisões mais desumanas adotadas por um país civilizado.

As forças de ocupação Americana censuraram as fotos das cidades bombardeadas. Elas foram classificadas como secretas por muitos anos.
O governo dos Estados Unidos não desejava que as imagens do horror fossem vistas pelo mundo. 

As Bombas Atômicas que atingiram Hiroshima e Nagasaki mataram mais de
250.000 pessoas
, tornando-se um dos maiores massacres de civis da história da humanidade. 

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Internacionalização da Amazônia

Durante debate em uma universidade, nos Estados Unidos, o senador CRISTÓVAM BUARQUE, foi questionado sobre o que pensava da internacionalização da Amazônia. O estudante fez sua pergunta dizendo que esperava a resposta de um Humanista e não de um brasileiro.
Esta foi a resposta do senador Buarque:
"De fato, como brasileiro eu simplesmente falaria contra a internacionalização da Amazônia. Por mais que nossos governos não tenham o devido cuidado com esse patrimônio, ele é Nosso.

Como humanista, sentindo o risco da degradação ambiental que sofre a Amazônia, posso imaginar a sua internacionalização, como também de tudo o mais que tem importância para a humanidade. "Se a Amazônia, sob uma ética humanista, deve ser internacionalizada, internacionalizemos também as reservas de petróleo do mundo inteiro. O petróleo é tão importante para o bem-estar da humanidade quanto a Amazônia para o nosso futuro.

Apesar disso, os donos das reservas sentem-se no direito de aumentar ou diminuir a extração de petróleo e subir ou não o seu preço. "Da mesma forma, o capital financeiro dos países ricos deveria ser internacionalizado. Se a Amazônia é uma reserva para todos os seres humanos, ela não pode ser queimada pela vontade de um dono, ou de um país. Queimar a Amazônia é tão grave quanto ao desemprego provocado pelas decisões arbitrarias dos especuladores globais.

Não podemos deixar que as reservas financeiras sirvam para queimar países inteiros na volúpia da especulação. Antes mesmo da Amazônia, eu gostaria de ver a internacionalização de todos os grandes museus do mundo. O Louvre não deve pertencer apenas à França.

Cada museu do mundo é guardião das mais belas peças produzidas pelo gênio humano. Não se pode deixar esse patrimônio cultural, como o patrimônio natural Amazônico, seja manipulado e instruído pelo gosto de um proprietário ou de um país.

Não faz muito, um milionário japonês, decidiu enterrar com ele, um quadro de um grande mestre. Antes disso, aquele quadro deveria ter sido internacionalizado.

Durante este encontro, as Nações Unidas estão realizando o Fórum do Milênio, mas alguns presidentes de países tiveram dificuldades em comparecer por constrangimentos na fronteira dos EUA. Por isso, eu acho que Nova York, como sede das Nações Unidas, deve ser internacionalizada.

Pelo menos Manhattan deveria pertencer a toda a humanidade. Assim como Paris,Veneza, Roma, Londres, Rio de Janeiro, Brasília, Recife, cada cidade, com sua beleza específica, sua história do mundo, deveria pertencer ao mundo inteiro.

Se os EUA querem internacionalizar a Amazônia, pelo risco de deixá-la nas mãos de brasileiros, internacionalizemos todos os arsenais nucleares dos EUA. Até porque eles já demonstraram que são capazes de usar essas armas, provocando uma destruição milhares de vezes maiores do que as lamentáveis queimadas feitas nas florestas do Brasil.

Defendo a idéia de internacionalizar as reservas florestais do mundo em troca da dívida. Comecemos usando essa dívida para garantir que cada criança do Mundo tenha possibilidade de COMER e de ir à escola.

Internacionalizemos as crianças tratando-as, todas elas, não importando o país onde nasceram, como patrimônio que merece cuidados do mundo inteiro. Como humanista, aceito defender a internacionalização do mundo. Mas, enquanto o mundo me tratar como brasileiro, lutarei para que a Amazônia seja nossa. Só nossa!.

Barrabás, ladrões e Ben-Hur


Os Evangelhos relatam que, na tentativa desesperada de salvar Jesus, em quem não via nenhuma culpa, Pilatos valeu-se de um costume judaico, vigente durante a Pessach (páscoa), de libertar um prisioneiro condenado à morte, oferecendo ao povo a escolha entre Jesus e Barrabás.

Em João, Barrabás é identificado como um "salteador"; em Marcos e Lucas ele foi condenado por ter matado alguém durante uma "sedição", e em Mateus diz-se apenas que ele era "um preso bem conhecido".

O problema é que em nenhuma literatura hebraica, inclusive no Talmud, é possível encontrar qualquer menção à prática de libertar um prisioneiro durante a Pessach. Não se conhece nenhum caso de alguém que tenha sido beneficiado por essa suposta tradição. Tudo leva a crer, portanto, que essa prática não existia.

Também não há qualquer fonte que nos diga que os romanos libertassem prisioneiros condenados, em respeito à tradição religiosa dos judeus ou de qualquer outro povo integrante do Império. E note-se que possuímos abundante literatura sobre o Direito Romano e seu "código processual".

Esse Direito era rígido: uma vez decretada a condenação do prisioneiro, somente o Imperador detinha o poder de anular ou comutar a sentença.

No caso de Jesus, nem lhe cabia "apelar para César" (como Paulo de Tarso o fez), porque ele não era cidadão romano.

Resumindo, nem na prática judicial romana, nem na hebraica, há qualquer referência à libertação de prisioneiros durante a Pessach ou qualquer outra data religiosa.

Considere-se também que, enquanto Jesus (variante mais "moderna" do antigo nome Josué) era um nome comum em sua época, não se tem referência a nenhum outro Barrabás (1) em toda a longa história de Israel.

Por conseguinte, o Barrabás dos Evangelhos é, muito provavelmente, um personagem fictício, cuja função nos relatos da "Paixão" é acentuar a responsabilidade (culpa) do povo judeu na morte de Jesus.

Mas admitamos, por um momento, que essa prática existia e que Barrabás foi beneficiado por ela.

Em todos os relatos da execução de Jesus, menciona-se que ele foi crucificado entre dois outros condenados, descritos sumariamente como "ladrões".
Ora, se os dois "ladrões" eram também condenados à morte, como Barrabás, porque Pilatos não os incluiu quando ofereceu ao povo a possibilidade de libertar um condenado? Se a prática existia, todos os sentenciados haveriam de poder ser beneficiados por ela.
Por que apenas Barrabás?

Aliás, sobre esses dois "ladrões", há que se dizer que não era costume de Roma condenar à morte esse tipo de criminoso. Seu destino era a escravidão, com trabalhos forçados nas minas ou como remadores nas galeras romanas (os "galés"), onde a vida era dura e curta.

A crucificação, salvo eventuais exceções, era aplicada somente a escravos e a não-romanos que atentassem contra a ordem política do Império.

Encontramos também esse "erro histórico" em romances como "Ben Hur", escrito por Lewis Wallace (2).

No romance, o judeu helenizado, Judah ben-Hur, é acusado (injustamente) de tentar assassinar o "praefectus" Valério Graco, que chega a Jerusalém para assumir seu posto (3).

Embora membro da elite aristocrática judaica, Judah não era cidadão romano, só adquirindo essa condição quando se torna filho-adotivo do cônsul Quintus Arrius, a quem salvara a vida no combate naval contra os piratas.

Condenado por esse tipo de crime, ben-Hur haveria de ser executado, e não transformado em "galé", como se lê no romance.

(1) "Barrabás" é uma construção semântica, onde "bar" = filho de ; e "abas" = pai. Ou seja: "filho do pai".
(2) O general-governador do Novo México que negou indulto a William (Billy-the-kid) Bonney.
(3) Outro erro: a capital da província romana da Judéia não era Jerusalém, mas Cesaréia, onde residia o governador.
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Alvaro Rodrigues (junho/2007)


Rosa Vermelha



Expoente do movimento socialista internacional no inicio do Século XX, Rosa Luxemburg (conhecida como “Rosa Vermelha”), nasceu em 1871,  na cidade polonesa de Zamo (àquela época,  parte da Rússia). Educada em Varsóvia, foi nessa cidade que ela iniciou suas atividades políticas, revelando-se uma oradora vibrante e inflamada por ideais revolucionários. Sua conduta atraiu a atenção das autoridades polonesas e, para evitar ser presa, ela acabou emigrando para a Suíça, onde estudou Ciências Naturais e Economia Política, produzindo uma tese de doutorado sobre "O desenvolvimento industrial da Polônia", em 1898.  Nesse mesmo ano, mudou-se para Alemanha, conquistando a cidadania alemã, ao se casar com um operário local.   
  
Quando estourou a I Guerra Mundial, suas firmes convicções internacionalistas levaram-na a se opor  à participação dos trabalhadores alemães no conflito, posição que lhe valeu ser marginalizada dentro do SPD, cuja direção optou por apoiar o governo do Kaiser Guilherme, na guerra. Foi, aliás, essa questão que provocou a grande rachadura do movimento socialista mundial, a partir de então dividido entre uma ala moderada (que manteve o controle do Partido Social Democrata) e uma ala de esquerda, empenhada em  preparar e deflagrar uma revolução operária na Europa, a partir da Alemanha.
   
Rompendo com a direção do SPD, Rosa e o socialista alemão Karl Liebknecht, fundaram a Liga Spartakus, que se tornaria o embrião do futuro Partido Comunista Alemão. Por seus discursos públicos contra a guerra, ela foi presa, permanecendo na prisão até o final do conflito. Solta em novembro de 1918, rapidamente se integrou ao eixo da efervescência política em que o país mergulhara, após a derrota militar.  A monarquia fora derrubada e começavam os dias confusos da República de Weimar.

Era caótica a situação do movimento socialista alemão, em novembro de 1918. A decisão de apoiar o esforço de guerra, tomada a 4 de agosto de 1914, e a duração da guerra haviam destruído a unidade, a disciplina e a força do SDP. Desde abril de 1917, a Social Democracia estava formalmente dividida em dois partidos políticos: a maioria (MSDP), compreendendo, grosso modo, a direita e o centro, sob a liderança de Frie drich Ebert e Philipp Scheidemann;  e a minoria, abrangendo a antiga esquerda, liderada por Hugo ilaase, constituindo o Partido Social Democrático Independente (USDP).



Cartaz da Liga Spartakus

Por seu turno, o USDP divida-se em correntes, por vezes antagônicas, uma das quais era  integrada pelos espartakistas, liderados por Karl Liebknecht e Rosa Luxemburg que, impossibilitados de fazer prevalecer suas teses dentro do USPD, acabaram fundando uma nova agremiação política, oficializada em 30 de dezembro de 1918, com o nome de Partido Comunista Alemão (KDP). 

Lichknecht e Rosa Luxemburg contavam entre os poucos que desejavam, seriamente, a ação revolucionária. Mas admitiam atuar como oposição socialista de esquerda numa democracia parlamentar. Em contraste, a maior parte dos espartakistas era menos lúcida e ansiava por uma ação revolucionária violenta, sem levar em conta suas reais possibilidades de êxito. Embora não passassem de algumas centenas, sua influência era notável.  
   
Contrariando seus lideres, esses espartakistas decidiram deflagrar  uma insurreição em Berlim, mesmo sendo fracos demais para ambos os empreendimentos. Conseguiram mobilizar grande parte da classe trabalhadora berlinense em demonstrações contra o governo, mas somente algumas centenas de operários estavam dispostas a pegar em armas. O resultado foi que o governo recorreu a grupos para-militares de direita , os “Corpos Livres”, que facilmente sufocaram o movimento rebelde. 
  
Recusando-se a fugir de Berlim para se colocarem a salvo, Rosa  e Liebknecht foram perseguidos, capturados e brutalmente assassinados, em 15 de janeiro de 1919.
  

 Cartaz do filme
 ROSA LUXEMBURGO ("Rosa Luxemburg"), 

             produção alemã-tchecoslovaca de 1986,
              dirigida por  Margarethe von Trotta

com Barbara Sukowa no papel principal.

(Alvaro Rodrigues/2004)

Queda do Império Romano


Na última década do Século IV, o imperador romano, Teodósio, dominava um império maior que o de Augusto e chefiava um exército de muitas centenas de milhares de homens. Menos de oitenta anos depois, tanto o Império quanto o exército tinham sido exterminados.
Como isso aconteceu?

Para Arther Ferril - professor da Universidade de Washington (Seattle), doutor em História Antiga e especialista em História Militar -a resposta deve ser buscada nas mudanças ocorridas no próprio exército romano, sobretudo em sua "barbarização" (admissão maciça de bárbaros germânicos nas fileiras das legiões), que destruiu sua tradicional disciplina, e na adoção de um exército móvel, que enfatizou a Cavalaria em detrimento da Infantaria (o secular esteio bélico da força militar de Roma).

Como diz Ferril, os bárbaros que invadiram e destruiram o Império Romano (do Ocidente) não lutavam melhor nem estavam melhor equipados do que seus ancestrais, a quem os romanos venceram tantas vezes no passado.
Eles não se tornaram mais fortes. Foi o exército romano que se tornou mais fraco.

A menina que calou o mundo

Durante a Conferência da ONU para o Meio Ambiente, realizada no Rio de Janeiro, de 3 a 14 de junho de 1992, uma garota canadense, Sevem Suzuki, de aproximadamente 13 anos, falou para uma platéia de altos dirigentes de governos, jornalistas e políticos. Ela era representante da ECO, uma organização de crianças em defesa do meio ambiente. Falou pelos animais que morriam no planeta porque perdiam seus espaços, mas falou, sobretudo, pelos seus sonhos e medos, diante de um futuro planetário cada vez mais sombrio e ameaçador.
Foi corajosa. Olhou de frente aquela platéia de poderosos, armada apenas com a Verdade, exibindo, nua e cruamente, a destruição insana que alguns de nós estão promovendo e que muitos de nós, por covardia, comodismo, insensibilidade ou alienação, assistem calados, permitindo-se ser coniventes.
Vale a pena ver o vídeo do breve mas contundente discurso dessa menina e permitir que cada uma de suas palavras caia fundo em nosso coração e em nossaconsciência.


Enforcando a consciência



O jornalista e cineasta australiano, John Pilger, conta que, na década de 1960, visitou os escritórios das grandes empresas de Tv americanas, em Saigon (Vietnã) e ficou impressionado com as fotos afixadas em quadros de parede. Eram fotografias de corpos desmembrados, de soldados americanos segurando orelhas e testículos decepados, além de várias outras retratando torturas aplicadas a vietnamitas.
- "Havia homens e mulheres sendo espancados e afogados até a morte, e humilhados de modo que me viraram o estômago" - conta ele. 
Quando Pilger perguntou se essas imagens eram publicadas pela imprensa dos EUA, responderam-lhe:
- "Claro que não. Nossos leitores não as aceitariam"
Então, um fotógrafo de uma agência de notícias, comentou: "É aqui que enforcamos nossa consciência!".

Durante o tempo em que permaneceu no Vietnã, o cineasta presenciou uma quantidade impressionante de atrocidades: assassinatos de civís, agricultores caçados a tiros por soldados americanos em helicópteros (1), "suspeito" arrastado atrás de um jipe cheio de soldados americanos dopados e às gargalhadas (2), aldeões enlouquecidos pelas bombas "anti-pessoal" despejadas sobre aldeias, escolas e hospitais.



Ele também conta que o grande fotógrafo galês, Phillip Jones Griffiths, certa vez tentou impedir que um oficial norte-americano metralhasse um grupo amontoado de mulheres e crianças vietnamitas.
- "Eles são civís" - gritou o fotógrafo.
- "E o que isso importa?" - indagou o oficial, e "rebentou" todo o grupo.

Tanto Pilger quanto Griffiths tentaram interessar as agências de notícias pela fotos que fizeram no Vietnã, mas nenhuma delas aceitou publicá-las.

O que mudou entre a época da Guerra do Vietnã e a atual Guerra do Iraque? Aparentemente nada, pois as atrocidades são aos mesmas. No Iraque a tortura é generalizada e "sistemática", como afirma a Anistia Internacional. Mas uma coisa mudou. Agora, graças a micro-câmeras, câmeras de celulares e, principalmente, graças à Internet, as imagens atrozes chegam ao conhecimento público.

Por trás de tudo o que aconteceu no Vietnã e o que hoje acontece no Iraque, John Pilger encontra um "elemento indizível", que se apresenta em quase todas as ocupações coloniais, não importa onde e quando, e que, segundo ele, é a "essência ideológica do imperialismo": o Racismo.

Na década de 1950, no Quênia, os britânicos assassinaram cerca de 10 mil quenianos e instalaram campos de concentração onde as condições eram tão duras que, em apenas um mês, morreram 402 detidos. Mas a imprensa européia só mencionava o "terror" dos Mau Mau, descritos como "negros demoníacos" que atacavam os bem intencionados brancos empenhados em "civilizar" a África.

Os soldados americanos encaravam os vietnamitas como "macacos amarelos" ou "piolhos humanos", e os massacravam como haviam massacrado os indígenas de seu país. Aliás, o Vietnã era tido por eles como "país de índios".

No Iraque, os atiradores de elite (snipers) da US Marine mataram mulheres, crianças e idosos em Fajula, como os "snipers" alemães atiravam para matar judeus no Gueto de Varsóvia.

O vice-secretário de defesa do governo Bush, Paul Wolfowitz, referia-se aos iraquianos como "serpentes" e explicava as atrocidades praticadas pelos "Marines" como necessárias para "drenar os pântanos dessa parte não civilizada do mundo".



O programa Report Mainz, de uma emissora de TV alemã, recentemente levou ao ar a acusação feita pela Cruz Vermelha Internacional de que mais de 100 crianças estão presas em centros de detenção americanos, no Iraque. . "Entre Janeiro e Maio deste ano nós registramos 107 crianças detidas, durante 19 visitas em 6 diferentes prisões.," disse o representante da Cruz Vermelha, Florian Westphal. O programa também destaca as declarações de testemunhas que viram crianças serem torturadas. O Sargento Samuel Provance, que estava alocado em Abu Ghraib, disse ter visto uma menina de 15 anos e um jovem de 16 anos sendo interrogados e submetidos a sevícias.

Seymour hersh, o repórter da New Yorker, que levantou a história das torturas no presídio de Abu Ghraib, revelou ter visto imagens e videotapes que a mídia estadunidense não exibiu. "Com as câmaras ligadas, podíamos ver as crianças sendo sodomizadas. O pior de tudo era ouvir seus gritos."

No Iraque, fala-se que os anglo-americanos já mataram mais de 11 mil civís. Mas esse número é sub-estimado. Como diz o oficial norte-americano, Adam Ingram :
- "Nós contamos até as chaves de parafusos, mas não contamos os iraquianos mortos"

Notas:
(1) Essa imagem foi usada por Francis Ford Coppola, no filme "Apocalypse Now"
(2) Essa é imagem estampada na contra-capa do livro "Crimes de guerra no Vietnã", do filósofo inglês, Bertrand Russel.

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- Alvaro Rodrigues (out-2009)

Brizola



Filho do trabalhismo getulista, Leonel Brizola jamais deixou de enaltecer Getúlio Vargas, lembrando os projetos e realizações nacionalistas de seu governo constitucional, e preferindo esquecer o ditador do Estado Novo, que flertava com o fascismo italiano.

Nos tempos de João Goulart, era tido (não sem razão) como "incendiário" e provável sucessor do presidente cuja posse garantira ao sublevar o Rio Grande contra a tentativa de golpe dos militares. Quando voltou do exílio, no estertor da ditadura militar (1979), havia "baixado o fogo", mas continuou sendo o que sempre foi: um político polêmico e, não raro, desconcertante.

Natural de Cruzinha ( Rio Grande do Sul), conquistou o amor apaixonado do Rio de Janeiro, mas não conseguiu se fazer querido em outros estados: os paulistas sempre o rejeitaram.

Candidato ao governo do Rio, quase teve sua eleição "garfada". Nunca se esclareceu, convenientemente, o episódio Pro-Consult, no qual, segundo ele, a Rede Globo teria se envolvido até o pescoço.

Os militares e a Globo (farinha do mesmo saco) sempre temeram mais Brizola do que Lula. O general-presidente, João Figueiredo (célebre por uma triste frase eqüina) permitiu seu retorno do exílio, mas aplicou-lhe um golpe mesquinho, surrupiando-lhe sua sigla partidária histórica, o PTB (manobra urdida pelo estrategista do regime, Golbery do Couto e Silva, com a cumplicidade de outra herdeira de Getúlio, Ivete Vargas).

E à época da primeira eleição presidencial no Brasil redemocratizado (1988), quando o gaúcho despontava na cabeça das pesquisas, seguido por Lula, o big boss do Império Globo, Roberto Marinho, que sempre estivera na trincheira oposta à do líder metalúrgico, não hesitou em escrever um longo editorial, intitulado "Companheiro Lula", sugerindo que, para evitar a eleição de Brizola, estaria até disposto a apoiar a candidatura do sindicalista. Isso foi antes que as elites se agarrassem a um oportunista alagoano, Fernando Collor de Melo, que passou como um meteoro (desastrado e desastroso) pelo cenário político nacional.


Coadjuvado pela genialidade do antropólogo Darcy Ribeiro (criador da Universidade de Brasília), Brizola realizou, no governo do Rio de Janeiro, um dos mais arrojado projetos educacionais deste país: os CIEPs. Mas se alguém, de passagem pelo Rio (como eu), naquele período, lesse o "O Globo", ficava com a impressão de que o estado não tinha um governador: o jornal simplesmente não noticiava nada, de bom ou de mal, relativo ao seu governo.

Nas eleições de 1988, vencida por Collor (que a grande mídia promovera como o "caçador de marajás"), Brizola estava no auge de sua liderança política. Demonstrou isso conseguindo transferir para Lula, no segundo turno, a quase totalidade dos votos que lhe foram conferidos na primeira fase das eleições. Na reunião do diretório nacional do partido que ele fundara (e presidiria até à morte), o PDT, anunciou sua decisão com um discurso inesquecível: "Dizem que política é a arte de engolir sapos. Pois então, vamos enfiar Lula, o sapo barbudo, na goela dessa burguesia".

Se conseguiu, em nível nacional, transferir seus votos para outrem, fracassou ao tentar fazer de Darcy seu sucessor, no governo do Rio. Intelectual brilhante, o antropólogo nunca teve "jeitão" de político; encantava uma platéia de doutores, mas não sabia empolgar multidões, em um palanque eleitoral. Brizola tentou de tudo para viabilizá-lo junto ao eleitor carioca e, perto da eleição, concebeu um artifício inusitado: mandou imprimir milhares de cartazes com sua foto e a frase "Meu nome é Darcy". Não funcionou, e o governo caiu nas mãos de Wellington Moreira Franco, político medíocre, cuja principal realização foi arruinar o projeto dos CIEPs.

O segundo governo fluminense de Brizola não foi nem a sombra do primeiro. Darcy estava muito doente (morreria, pouco tempo depois) e ele só tinha olhos para Brasília, relegando a um plano secundário os problemas do estado que o idolatrava, dentre eles o da violência, cada dia mais alarmante.

A partir de então, sua força política não parou de decrescer. No fim, não conseguiu sequer se eleger prefeito do Rio de Janeiro.

Embora fosse considerado uma "raposa política", Brizola alternava atuações de apurada sagacidade, com outras aparentemente estúpidas. Pertence ao segundo grupo sua conduta à época do impeachment de Collor. No momento em que o "esquema PC Farias" (denunciado pelo irmão do presidente) se tornava de conhecimento público, e os "caras-pintadas" saíam às ruas de todo o país, cobrando a cabeça presidencial, Brizola achou por bem aproximar-se daquele a quem sempre se referira como "filhote da ditadura". Ninguém entendeu, nem os que lhe eram mais próximos.

Aliás, estar próximo de Brizola nem sempre era uma posição confortável. Personalista e concentrador, ele não admitia que ninguém no PDT lhe fizesse sombra. Os que, tendo crescido sob suas asas, adquiriram certa projeção política, acabaram brigando com ele e deixando o partido. O último foi Anthony Garotinho.

Com Lula, sua relação sempre foi de tapas e beijos, mesmo quando se juntaram em uma única chapa, para tentar impedir a reeleição de Fernando Henrique Cardoso. Após a derrota acachapante, seus caminhos se distanciaram.

Quando Lula derrotou José Serra e, afinal, conquistou a presidência, Brizola, inicialmente, apoiou o governo do "sapo barbudo" (a essa altura mais semelhante a um "ursinho de pelúcia", como o disse Ciro Gomes, durante um debate), ainda que criticando suas "alianças espúrias". Mas não tardou a passar para a oposição, decepcionado (como tantos outros) com os rumos da administração petista.

Levando uma vida particular austera (tido como "pão duro", pelos amigos) e respeitado no continente europeu (tornara-se vice-presidente da Internacional Socialista), Brizola estava convencido de ser capaz de resolver (se lhe deixassem) os grandes problemas nacionais, especialmente os de natureza social. E embora os adversários o chamassem de "caudilho" e ao seu nacionalismo de "ultrapassado", não conseguiam negar seu sincero amor pelo país. Nos inúmeros discursos que pronunciou, a frase "povo brasileiro", invariavelmente presente, jamais soava como demagógica.

"Minha grande derrota foi não ter conseguido ser pai", confidenciou, certa vez, a um ex-deputado tucano, reconhecendo que sua integral dedicação à política não deixara espaço para o exercício da paternidade.

Na verdade, a grande derrota foi não ter conseguido materializar o maior sonho de sua vida: ser presidente do Brasil. Em duas ocasiões, a roda da fortuna o colocou perto de seu objetivo: nos idos de 1964 e nas eleições de 1988. Em ambas, seu projeto foi abortado.

O sonho de Leonel de Moura Brizola se enterrou, junto com seu corpo, numa segunda feira, 21 de junho de 2004, em um cemitério de São Borja, na fronteira gaúcha com a Argentina, onde estão sepultados João Goulart e o mentor político de ambos: Getúlio Vargas .
alvaro Rodrigues (2004)