quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

As decisões de Hitler




Decisões individuais não determinam o destino de um evento histórico da magnitude de uma Segunda Guerra Mundial, mas certamente influenciam, acelerando ou retardando os processos e seus tempos.

No tocante a Hitler, é comum se ler que ele perdeu a guerra por conta de sua teimosia e por ter ignorado os conselhos de seus generais. Mas não há elementos que corroborem tal conclusão. Certamente ele cometeu erros mas, de um modo geral, sua extraordinária capacidade de avaliar situações e identificar pontos fracos em seus inimigos, o levaram a tomar decisões em sua maioria exitosas para os seus objetivos.

Por exemplo, ele apostou, corretamente, que os franco-britânicos lhe dariam aTchecoslováquia numa bandeja de prata. E assim foi. (Mais tarde, referindo-se aChamberlain e Deladier, ele diria: “São uns vermes. Eu os vi em Munich”).

Também apostou que as potências ocidentais (França e Inglaterra) não arredariam o pé para ajudar a Polônia. Tanto que deixou poucas tropas na fronteira ocidental, que seriam facilmente vencidas se os franceses decidissem atacar. Mas Paris e Londres preferiram ficar quietos, numa postura defensiva, enquanto os panzers alemães trucidavam os poloneses. (Curiosamente, quando aURSS invadiu a Finlândia, os franceses correram a equipar uma força-tarefa para ajudar os finlandeses, que só não partiu porque, antes disso, Helsink capitulou).

A verdade é que o Ocidente não se dispunha a criar sérios embaraços àAlemanha, em seu avanço pela Europa Oriental, rumo à União Soviética. QuandoHitler ignorou, cinicamente, o Acordo de Munich, e em lugar de apenas os Sudetos, apossou-se de toda a Tchecoslováquia, o “apaziguador” primeiro-ministro britânico, Neville Chamberlain, limitou-se a lamentar: “Mr. Hitler não é um cavalheiro!”.

Hitler foi especialmente feliz ao adotar a estratégia de envolver as forças aliadas mediante um avanço pelas Ardenas, que os militares franceses (e não poucos generais alemães) consideravam inviável para manobras com tanques, haja vista sua intensa arborização. Guderian e Von Manstein provaram que era possível . Enquanto o comandante francês, Maurice-Gustave Gamelincorria para o engodo belga, eles engaiolaram os aliados em um grande bolsão e tomaram Paris num piscar de olhos.

Em uma França ideologicamente dividida, onde quase a metade de sua classe dominante preferia juntar-se a Hitler numa cruzada contra a URSS, a “blitzkrieg” funcionou maravilhosamente (o general soviético, Tukhachevsky, já dizia que a “guerra relâmpago” alemã era muito eficaz quando dirigida contra um inimigo que não queria, realmente, lutar).

A decisão de firmar um Tratado de Não-Agressão com a URSS também foi uma manobra genial: apanhou os ocidentais de calças curtas e desarmou Stalin. Com isso, a Wermatch passeou na Polônia, sem recear ser surpreendida. (Constrangedora foi a situação em que ficaram os PCs europeus, obrigados a não mais hostilizar os nazistas. Muitos comunistas quase "piraram" nesse cenário insólito).

Mas houve momentos em que a avaliação de cenário e conseqüente decisões de Hitler não foram adequadas. Declarar guerra aos EUA (após Pearl Harbour) foi, provavelmente, um grande erro. Por que fazê-lo? Por solidariedade ao aliado japonês? Começa que Alemanha e Japão nunca foram, realmente, aliados. Seus interesses eram diferentes e, a longo prazo, conflitantes. Ademais, os japoneses não se mostraram nem um pouco solidários quando os nazistas invadiram a URSS. Preferiram firmar um acordo de não-agressão com os russos, apesar dos rogos deHitler para que atacassem os soviéticos pelo Oriente. Desse modo, Stalin pode deslocar as tropas que guarneciam sua fronteira oriental, para conter o furioso e demolidor avanço alemão, nos primeiros meses da Operação Barbarossa.

Tudo indica que, na decisão de guerrear os EUAHitler deixou-se levar pelo alto comando da Marinha alemã, que queria liberdade para atacar navios norte-americanos no Atlântico. Isso porque, embora oficialmente neutros, os EUAprestavam descarado auxílio (cobrado a peso de ouro) aos combalidos britânicos.

O resultado foi que, se em 1940 a Alemanha dominava quase toda a Europa e tinha contra si apenas uma Inglaterra de joelhos, no final de 1941 ela lutava contra 3 potências industriais: EUA, Inglaterra e URSS. Não havia como ganhar a guerra desse jeito.

A decisão de atacar os russos foi um erro? A médio prazo, ela provou ter sido fatal para o Nazismo. Mas Hitler não tinha escolha. Sem conquistar a URSS, sua estratégia mundial perderia qualquer sentido. Como ele mesmo disse: ""A luta pela hegemonia mundial será decidida pelo domínio do espaço russo. Sem isso, qualquer idéia de política mundial é ridícula, para a Alemanha".

Porque a Segunda Guerra Mundial foi isso: uma grande luta pelo domínio mundial, na qual os principais contendores foram a Alemanha, o Japão e osEstados Unidos.

Quando a guerra acabou, os EUA se haviam tornado os líderes incontestes do mundo capitalista , mas seu domínio mundial foi, por algum tempo, contestado por uma potência não-capitalista: a URSS. A disputa entre as duas super-potências (Guerra Fria) só se encerraria em 1991.
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alvaro rodrigues (novembro/2009)

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